Eu preciso passar por um cardiologista antes de qualquer cirurgia?
Dra. Daniela Fontes Araújo – cardiologista da Braile Cardio.
Primeiramente, se você já passou por um procedimento cirúrgico, provavelmente já se deparou com uma lista de exames laboratoriais e com a solicitação, por parte do cirurgião, de uma avaliação cardiológica pré-operatória.
Mas, por que será tão importante esta avaliação e para quais tipos de pacientes ou cirurgias esta avaliação se torna necessária?
O sucesso de um procedimento cirúrgico depende não só da aptidão e da habilidade técnica do cirurgião como também do preparo prévio e dos cuidados no perioperatório.
Durante uma cirurgia, por mais simples que seja o nosso organismo fica exposto ao estresse cirúrgico e corre riscos de emergências cardiorrespiratórias. Portanto, quanto maior a complexidade do procedimento, maiores as chances de complicações.
Procedimentos Cirúrgicos
Basicamente, os procedimentos cirúrgicos podem ser divididos em:
Minimamente invasivos: endoscópicos, catarata, mama, cirurgias superficiais;
Moderadamente invasivos: ortopédicas, próstata, intra-abdominais, intra-torácicas, cirurgias endovasculares e de cabeça e pescoço;
Altamente invasivos: cirurgias vasculares (aórtica, grandes vasos e vascular periférica), além das cirurgias de urgência e emergência;
A estimativa é que 5% das cirurgias de maior porte apresentem algum tipo de intercorrência cardiovascular maior, incluindo arritmias, infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral.
Avaliação pré-operatória
A avaliação pré-operatória inicia-se pela anamnese e exame físico cuidadoso e orientado, avaliando entre outros pontos:
- história da doença atual e de seu tratamento;
- tolerância ao exercício;
- última visita ao clínico;
- medicações em uso e história de alergia.
- qualquer condição de doença crônica, particularmente os aspectos cardiovasculares, pulmonares, hepáticos, renais, endócrinos e neurológicos;
- a atenção redobrada em pessoas que apresentam maior vulnerabilidade, como hipertensos, diabéticos e idosos;
- antecedentes anestésicos e cirúrgicos (importando: complicações, dor, náuseas e vômitos, sangramentos, transfusão, febre, reações adversas, tempo de internação, terapia intensiva);
- sangramentos e cicatrização.
Exames laboratoriais
Quando necessário, são solicitados exames complementares, como por exemplo: eletrocardiograma, raio X tórax, ecocardiograma e/ou testes de esforço. Essa lista de exame é definida a partir de dados sugestivos encontrados na história e no exame físico e, também, na necessidade de monitorizar condições clínicas específicas que possam sofrer alterações durante as cirurgias ou procedimentos associados.
Portanto, a avaliação cardiológica inicial é importante ferramenta na avaliação pré-operatória. Ela estima, além do risco cardíaco, os riscos de complicações pulmonares, neurológicas e/ou infecciosas, determinando a capacidade funcional e definindo em conjunto com o cirurgião e o anestesista a melhor técnica cirúrgica e melhores circunstâncias para a realização da cirurgia (pós operatório em UTI, reajuste de medicamentos.
Além disso, outros efeitos da avaliação pré-operatória ambulatorial incluem:
- redução da permanência hospitalar;
- redução do período de internação pré-operatório;
- aumento do número de operações ambulatoriais, reduzindo assim em cerca de 30% o risco de suspensão da cirurgia por qualquer fator adverso no dia do procedimento.
Com tudo isso em dia, os cardiologistas, anestesistas e cirurgiões agradecem!
Fonte: Revista Saúde – São José do Rio Preto
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Saiba que é possível operar do coração sem abrir o peito
Dra. Eliana Mustafá – cardiologista da Braile Cardio.
Pois é, já existe uma técnica inovadora que pode ser recomendada para pacientes com uma doença cardíaca chamada estenose valvar aórtica, que acomete cerca de 2% a 7% das pessoas com mais de 65 anos.
É a TAVI (Transcateter de Válvula Aórtica), que realiza o implante valvular aórtico dos pacientes portadores da válvula lesada e melhora sensivelmente a sua qualidade de vida.
A estenose valvar aórtica ainda é pouco conhecida pela população, mas se não for tratada e diagnosticada a tempo pode levar à morte. Uma das suas causas mais frequentes é a calcificação da valva aórtica, que acontece lentamente ao longo da vida.
Uma valva aórtica saudável se abre completamente para permitir que o sangue flua de maneira normal e se fecha firmemente para interromper o fluxo. Quando ela não abre de maneira adequada e dificulta o fluxo sanguíneo acontece a estenose.
Quando o paciente apresenta sintomas como dor no peito (angina), desmaios (síncope) e falta de ar (dispneia), a estenose já está bastante avançada. O paciente portador de estenose valvar aórtica importante sintomático, se não for submetido à cirurgia, pode morrer.
Tratamento inovador
Atualmente, o tratamento convencional da estenose é a cirurgia de substituição da válvula, que é feita com o peito aberto. O problema é que a doença afeta muito mais idosos; cerca de 30% dos pacientes não têm condições de operar, pois são cirurgias de alto risco.
Nestes casos, os pacientes podem se beneficiar do implante de uma prótese valvular por meio da TAVI, técnica que já está sendo usada nos Estados Unidos, França, Inglaterra, Canadá, Austrália e, também, no Brasil.
No procedimento de implante de uma prótese valvular por cateter (TAVI), a nova valva é inserida no organismo através de um cateter (um tubo longo e flexível) e levada ao coração. Isto pode ser feito sem a necessidade de abrir o tórax ou a utilização de máquina de circulação extracorpórea.
O cateter pode ser inserido através da artéria femoral (na virilha) ou através de uma pequena incisão no peito próximo do coração. Este procedimento proporciona alívio de curto e de longo prazo dos sintomas, funcionamento normal da valva aórtica e melhora geral das funções e da expectativa de vida.
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