Quando a progressão da doença é mais lenta, quando a transmissão entre os indivíduos é mais lenta, a demanda por equipamentos hospitalares é diluída.
Nas últimas semanas temos ouvido autoridades em saúde pública falando sobre “achatamento da curva do coronavírus”. Mas afinal, o que é achatamento da curva e qual sua importância?
Uma doença viral como a Sars-Cov-2 causada pelo Covid-19 dissemina-se através da contaminação interpessoal. Ou seja, um indivíduo infectado é capaz de contaminar vários outros que, por conseguinte, irão contaminar muitas outras pessoas. E de forma exponencial! Assim sendo, quanto maior o número de pessoas expostas ao vírus, mais veloz será a propagação da doença porque mais pessoas vão se contaminar em um curto espaço de tempo…
Entendendo isso, passamos para a seguinte conclusão: quanto mais rápida a progressão da doença, mais aguda fica a curva de contaminação. Quanto mais lenta a progressão da doença, mais achatada fica a curva de contaminação.
Muitas pessoas têm argumentado da seguinte forma: mas se muitas pessoas vão se contaminar cedo ou tarde, qual a importância de “achatar a curva”???
Muitos dos pacientes que são infectados por Covid-19 vão necessitar de atendimento hospitalar. Cerca de 50% destes pacientes que são admitidos em hospitais serão internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI´s). Os pacientes com Sars-Cov-2 permanecem internados em UTI´s por cerca de 15 a 22 dias, em média. Ou seja, a demanda por leitos de UTI é alta e o tempo de ocupação do leito também é elevada… Portanto, se temos uma doença viral que progride rapidamente, muitos pacientes podem precisar de leitos de UTI em um curtíssimo espaço de tempo. E será que a estrutura de saúde está preparada para atender esta demanda abrupta?
Devemos lembrar que, em muitas regiões, o sistema de saúde encontra-se saturado há décadas! Pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estimam que, dos 5.570 municípios do Brasil, apenas 536 (9,6%) têm leitos de UTI, 2.296 (40,7%) contam com respiradores e apenas 855 (15,3%) têm aparelhos de tomografia. Todos estes recursos indispensáveis na condução das formas graves de Sars-Cov-2. São cerca de 48 milhões de brasileiros vivendo em locais onde não há sequer leito de UTI. A maior carência é observada nas regiões Norte e Nordeste. Não foram incomuns matérias jornalísticas e relatos sobre insuficiência de leitos nos últimos anos. Antes mesmo do início da pandemia.
A demanda abruta de leitos de UTI sobre um sistema que já trabalha sobrecarregado leva ao colapso. Nestas condições, pacientes deixam de receber o tratamento necessário. E o resultado é o aumento da mortalidade, como ocorrido na Itália e como tende ocorrer em algumas regiões do nosso país. Lamentavelmente… Perder uma vida por causa da doença já é doloroso demais. Com o agravante de não poder oferecer o melhor tratamento que a medicina dispõe é inconcebível.
Por isso, achatar a curva é fundamental! Ou seja, quando a progressão da doença é mais lenta, quando a transmissão entre os indivíduos é mais lenta, a demanda por equipamentos hospitalares é diluída com o passar dos dias e das semanas. Isto permite que o sistema de saúde comporte a demanda…
Pessoalmente havia feito o compromisso de publicar boas notícias através deste meio de comunicação. Afinal, qual a boa notícia?
A boa notícia é que o sistema de saúde, público ou privado, em nossa região ainda parece distante da saturação. Logo, o distanciamento social e o engajamento da população do noroeste paulista, associadas às medidas adotadas pelas autoridades semanas atrás mostram seus efeitos hoje. Não há menções sobre colapso do sistema de saúde pelo interior do estado de São Paulo.
Mas lembro que isto não quer dizer que estamos salvos desta situação no futuro… Por isso, ainda insistimos nas medidas de distanciamento social e de adaptações ao funcionamento de atividades essenciais e não essenciais. Pessoalmente, não desejo ter que chegar à situação vivida pelos médicos italianos…